domingo, 31 de julho de 2011

Liberdade

A chuva que fustiga a minha janela, me faz pensar no meu amor próprio... tão fustigado por convenções e preceitos que não posso vencer, porque estaria na contra mão do entendimento coletivo.
A minha liberdade é limitada, vigiada pela sociedade, que não me recebe, nem aceita, sem cobrar um preço maior do que eu gostaria de pagar e até penso que não vale tanto, mas de que outro modo, eu conseguiria sobreviver?
As pessoas ditam regras, os usos e costumes ditam normas, as religiões estabelecem o que é certo e o que é errado e as leis determinam o que é e o que não é crime.
Fala-se em liberdade de expressão, mas são crimes, o racismo e a homofobia.
Ou seja: posso pensar, mas não devo me expressar, porque só tenho direito à liberdade de expressão, se eu não disser que o cara (hipotético) da esquina é um "negão" nojento, que a "sapatão" que namora a minha manicure (imaginária) é horrorosa.
Enfim, tenho liberdade, desde que recicle o lixo, não chute o gato que está devorando a minha coleção de pássaros silvestres (sou contra pássaros em gaiolas e a maltratar animais), não passe férias no Pantanal (que eu não conheço), caçando pacas, tatus e papagaios, ou não fume da porta da minha casa, pra fora! Aff!!!
Que liberdade é essa?  
É uma liberdade controlada pelas câmeras de segurança, onde posso ser flagrada beijando o meu namorado dentro do elevador, na calçada da avenida central, ou no banco da praça, e alguém mais tarde, pode me chantagear por isso.
É a liberdade castradora, que não permite que eu diga que não gosto de alguém, ainda que pelo caráter dessa pessoa, se ela for de origem diferente da minha, ou tiver opções sexuais que não sejam as minhas, para não incorrer no risco de ser acusada de racista, preconceituosa ou homofóbica...
É a liberdade que permite que eu fale mal do governo, desde que continue pagando meus impostos, para ele gastar como bem entender, o MEU DINHEIRO!
Mas admito, já foi bem pior! 
Essa colocação, só tem a finalidade de observação, porque eu não sou racista; não sou homofóbica, não tenho gatos, ou animais silvestres, sou totalmente favorável à prática da reciclagem do lixo, à economia de água e aos cuidados com o aquecimento global.
É verdade, que deixei de dançar (que era a única coisa que eu amava fazer nos finais de semana), porque não posso mais fumar em lugares fechados onde freqüentem não fumantes, mas também, ninguém pensa que poderia criar um lugar para dançar, onde os donos, empregados, cozinheiros, garçons, porteiros, a banda, o cara do som e da iluminação, enfim, todos fossem fumantes, e onde os não fumantes que fossem ali, soubessem que não teriam do que reclamar... ai, como seria bom! 
E já que a minha liberdade é limitada, sigo divagando e olhando pela janela, vendo o meu amor próprio ser fustigado pela chuva de proibições, que me dá a sensação de ser uma cidadã correta e que eu posso fazer o que bem entendo da minha vida, já que não faço nada que vá em direção contrária ao que a sociedade e as convenções me digam que é permitido.
Certa vez, alguém me disse que num desses países de primeiro mundo, não me recordo agora qual deles, a pessoa que for pega jogando um papel de bala no chão, paga uma multa fenomenal (a fiscalização funciona), e que lá, as ruas são tão limpas, que você pode dormir na calçada, andar descalço, como se estivesse dentro de casa, porque o povo não é educado como a gente pensa, mas porque se for desleixado, dói no bolso.
Ai, fica a minha pergunta: a liberdade existe?

Boa tarde!