domingo, 13 de novembro de 2011

Imigrante

Quando ela saiu em direção ao porto, sabia que deixava também o seu bem mais precioso. 
Ele foi se despedir. 
Se abraçaram demoradamente, porque precisavam guardar a força daquele abraço, para sobreviver.
O navio partiu e ela calou.
Pensou em se jogar ao mar, mas depois, desistiu, porque a dor que sentia era maior e não queria que sua família herdasse esse quinhão.
Quando aprendeu a falar português, voltou a emitir alguns sons necessários ao convívio familiar, mas nunca mais pronunciou uma única palavra em italiano, pois elas tinham sido deixadas nos lábios dele.
Não se casou. 
O tempo passou, assistiu a toda a família, serviu, doou-se o quanto pode, sem ser amarga, mas sempre com o coração apertado, doído, fechado.
No dia em que um conterrâneo, convidado da irmã, veio para o jantar, mais uma vez, relembrou os lugares por onde passou na juventude, as colinas, o sabor das frutas, o perfume das flores e, surpreendeu a todos, quando falou pela primeira vez, depois de mais de setenta anos, em italiano, que ele poderia ser um neto do seu grande amor e por isso ela estava feliz em tê-lo na casa, à mesa do jantar.
Ao acompanhar o convidado até a porta, para se despedir, ela disse baixinho: "Io te voglio bene."
A esperança de que tivesse algum parentesco com o seu grande amor, lhe reascendeu a chama que aquece o coração.
Quando o visitante se foi, ela o acompanhou com o olhar, até que não pudesse mais vê-lo. Fechou a porta da casa, mas não o seu coração, como fazia todas as noites, deitou-se em sua cama, com as mãos sobre o peito, sorriu em paz e dormiu...

Boa tarde!