sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Finalidade

Ele subiu no muro, para ver quem era a dona daquele sotaque paulista de voz macia.
Ela olhou para cima e viu o par de olhos azuis, mais lindos que já tinha visto.
Esse foi o início de tudo!
Ele, tinha dezesseis anos; Ela quatorze.
Ele era mineiro, ela paulista.
Duas crianças, mas já com histórias de vida, ainda que diferentes, ambos conheciam pobreza, falta de oportunidades, sacrifícios, mas enfrentavam tudo com a leveza da ingenuidade, até porque, seus sonhos, nunca eram maiores que os passos que podiam dar.
O bolo de 15 anos dela, foi ele quem fez e lhe deu de presente, um anel de prata, com o "N" do seu nome gravado.
Quando foi embora, o pai dela proibiu o namoro, mas quatro anos mais tarde, se reencontraram.
Sonharam juntos, investiram juntos, acreditaram juntos.
Superaram juntos, todas as dificuldades e tiveram três filhos, na verdade, quatro, porque adotaram mais um.
Essa poderia ser uma boa história de amor, para ser contada como um conto de fadas, mas foi real; Real demais, para terminar com o final feliz... 
O sotaque paulista que tanto chamou a atenção dele e o encantou, lhe acompanhou por 64 anos...
Os olhos azuis mais lindos do mundo, velaram por ela, já lacrimejantes, até o último minuto...
Houve sofrimento em não raras situações, mas houve também muitas alegrias e momentos inesquecíveis...
O amor dela, por ele, era incondicional. O amor dele por ela, cuidava, assistia, provia, acolhia, compreendia, protegia...
Quando ela se foi, ele se sentiu abandonado, traído, porque ela era mais forte e poderia passar por isso. Ele não!
Mais tarde, ele também partiu, mas não soube se ela estaria esperando por ele...
Hoje, os filhos estão à deriva, porque era o amor deles que os guiava.
O amor que os manteve ligados por toda uma vida, também os manteve separados no fim da vida. Por pouco tempo, mas teve o peso da eternidade.

Bom dia!        

sábado, 13 de outubro de 2012

Mortalha

Fiz tudo o que estava ao meu alcance. Tenho certeza!
Não basta amar, mas há que saber cultivar e manter vivo o amor.
A mortalha, me cai bem... até porque, o fim de tudo está encerrado nela.
Não vou desistir de mim, mas já desisti de nós. Simplesmente, por falta de irrigação, manutenção, cultivo.
Você, não merece minhas lágrimas, que há muito deixei de derramar.
Eu, não preciso me expor, o que também deixei de fazer a bom tempo.
De nós, o que restou? Nada, não é mesmo? Nem cinzas, para como a fênix, poder renascer...
Então, pra que insistir na manutenção de algo que não fez bem a ninguém?
Corrigindo: por que insistir em algo que só fez bem a você, sendo que fiquei no prejuízo do tempo perdido e do amor que lhe dediquei, sem a menor retribuição?
Ah, te amei muito! E como! Pra que?
Seu egoísmo, tornou meus dias mais densos, nebulosos...
Sua falta de zelo e dedicação, fizeram de mim, alguém sem motivação e sem foco, porque você era uma cortina de fumaça, que insistia em me mostrar a lua, quando na verdade, nem a ponta do dedo era real!
E, como sempre, sigo o meu funeral de sonhos... mais sonhos morridos, mais esperanças finadas...
Sou forte, bem plantada, então, quem vai chorar nesse enterro, será você, porque em mim, a mortalha cai bem.
A morte é o renascer das forças, das perspectivas, dos sonhos, o que a faz bem vinda neste momento.
Morra de vez em mim, para que eu siga em frente e, como você tem se mostrado especialista em matar o afeto das pessoas por você, não terá nenhuma dificuldade em terminar o que começou.
Vá em frente!
Mate este amor moribundo, para que eu renasça revigorada das mágoas e ressentimentos causados por todas as decepções que me deu.
A mim, uma vez findado este velório dos sentimentos verdadeiros que lhe dispensei, restará a sobriedade dos loucos capazes de amar incondiscionalmente, o que você não pode sequer imaginar a grandeza e maravilha que é ter essa capacidade, porque nem a si mesmo é capaz de amar!
E por que afirmo que não é capaz de amar a si mesmo? Olhe-se no espelho e responda com honestidade, se você ao menos cuida de si mesmo, da sua aparência, da sua saúde e verá, quanta falta de amor habita em você...
Pensando assim, acho até que a mortalha, fica melhor em você do que em mim! Risos...
Então, não se dê o trabalho de morrer por mim, porque nem por você eu morreria agora!

Boa tarde!

domingo, 23 de setembro de 2012

Refazendo

Reescrevendo caminhos já antes sopisados, reencontro vidas que então não tinha valorizado.
Refaço os bons e maus passos, mas agora, vejo a mesma paisagem com outros olhos, como se ela tivesse mudado a roupagem e não eu o ponto de vista.
Busco leveza nas pedras que emolduram o caminho, mas seu encanto consiste na sua força, no seu peso contra a natureza; A minha natureza.
A trilha agora escolhida, me parece mais íngrime, mais árida, mas ainda assim, resguarda o dourado de um sol antes desconhecido por mim. Ou seria esquecido?
Os sonhos já realizados, deixaram de ser sonhos. Não contam mais; não motivam.
Ontem, fui me buscar, me trouxe de volta!
Hoje, quero novas experiências, novos desafios. 
Eu quero: eu posso!
Descumpri todas as promessas, e não posso empenhar mais nada. Melhor assim, porque só posso contar comigo.
Desfiz todos os projetos: Começo de novo.
Novos rumos me atraem, até porque, preciso experimentar outros sabores e escolher o que melhor agrada meu paladar, que hoje é diferente. 
Sou agora, mais seletiva nas escolhas, ainda que por isso, eu pague mais caro. Estou na era da qualidade. Quantidade, não abastece minha busca.
Não devo temer os novos caminhos, afinal, são velhos conhecidos, com paisagens revistas, e eu vou refazendo as trilhas e reconstruindo a minha história, como deve ser e como sempre foi...

Boa tarde! 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Interessada

Seu jeito de me amar é único e muito estranho:
A sua ousadia, em dizer que jamais vai anunciar ao mundo, que é meu namorado e em seguida, dizer que me ama com exclusividade, é inusitado, até porque, realmente, nunca vi ninguém agir como você.
A importância que você dá, ao que não faz a menor diferença, é o que faz tudo se tornar especial e ao mesmo tempo, faz com que eu me retire da cena, com cara de criança boba, porque ninguém consegue não ser ingênuo ao seu lado!
Você se torna um gigante, quando quer convencer, e qual criança, não olharia para um gigante, com admiração e veneração?
Ora, o que me importa, se você nunca levou ninguém antes de mim, aquele restaurante? O que me importa, o que você fez na vida, antes de mim?
Sinceramente? Nada!
A mim, o que importa, é o que você faz hoje por mim e para mim. O que tem valor, é o que eu represento na sua vida, hoje! 
Dou mais importância ao fato de você admitir, enquanto a gente estava conversando (brigando, na verdade), e olhando para aquele mar calmo e lindo, ao pôr do sol, que precisa de mim, do que qualquer outra coisa neste mundo. Isso conta!
Se você é pobre e sonhador, me interessa!
Se você é feliz ao meu lado, se gosta da minha companhia, se me quer por perto, me interessa!
Se você se sente melhor dividindo uma única taça de vinho comigo, a tomar o vinho mais caro ao lado de um grande amigo, isso é o que me importa!
Enfim, você me acusa de possessiva, quando na verdade, sou meramente, convicta de valores que não são os seus. O que você vê em mim, mas também o que eu vejo em você, me interessa, sob todos os aspectos.
Portanto, não duvide, se você não toma atitude, tomo eu e, caso não tenha percebido, já estou tomando atitude!
Enquanto você se diz constrangido, quando eu pago a conta do restaurante, eu me sinto lisongeada por fazê-lo, pois bem sei, que jamais você, orgulhoso como é, permitiu isso a mulher nenhuma na sua vida, mas eu não peço permissão. Apenas vou até o caixa e pago a conta. 
E não se sinta ofendido, por eu dizer isso aqui, porque o que importa, é o prazer que eu sinto, por fazer isso, para te mostrar que definitivamente, sempre será surpreendido por mim, através de pequenos gestos, ou grandes atitudes.
Sempre estarei atenta para não permitir que sua vida seja entediante ao meu lado.
Admita, eu sou diferente, e é isso que faz com que você simplesmente não saiba mais viver sem mim!
Então, meu amor, se me quer de verdade, decida-se logo e faça com que as coisas aconteçam!
Não sou mulher de assistir passivamente ao desfile! Eu gosto é de suar a camisa na avenida. E você já devia saber disso.
Amei estar naquele terraço hoje, porque realmente, o lugar é belíssimo, mas acima de tudo, o que me deixou maravilhada, foi estar ao seu lado, ouvir você dizer que precisa de mim, e, para isto, não precisa que estejamos em lugares mágicos, mas tão somente, que você esteja feliz ao meu lado, como me sinto feliz (feito criança), ao seu lado.
Aponte para a lua, mas não sonhe cavalgar no dragão de São Jorge, porque enquanto isso, já estive lá, domei o dragão e voltei, com a espada cravada no seu coração, para que seja só e por inteiro meu, para o resto da eternidade!
De outro modo, se não for por inteiro, não me interessa!

Boa noite!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Silêncio

Pelo seu silêncio, constato o quanto era grande e verdadeiro o seu amor.
Vejo com tristeza, que realmente, investi num amor que só existiu em mim...
Durante todo esse tempo, me deixei iludir pela perspectiva de apontar a lua e não olhar para a ponta do dedo.
Nem todos os anos de experiência, puderam evitar a dor que sinto agora. O ato de entrega, pressupõe retomada, mas não pensei que ia doer tanto.
Sinto-me traída, roubada do meu tempo, do quanto acreditei, do quanto ilusoriamente me senti segura.
Ainda assim, persisto na determinação de não mais buscar você. É você quem tem o poder de decidir e dar o primeiro passo e, se não o fez até então, é porque preferiu se manter ai, na vida infeliz que você dizia ter. 
Será que era tão infeliz assim, ou só mais uma mentira que você sustentava?
Vejo que você não é quem diz ser. Então, se não é quem pensei que fosse, mais uma vez, não foi real. Foi uma fantasia - e só minha, o que vivemos.
Sigo, também em silêncio, porque minha decisão é preciosa para eu poder respirar sem o peso de esperar por você.
Vou caminhando, trôpega, é verdade, porque aprendi andar ao seu lado, mas ainda assim, sabendo que é o melhor que eu posso.
Mesmo preocupada com a sua saúde, prefiro pensar que não sou médica e você já tem quem cuide de si, não precisa, portanto, de mim. 
E, quando pela manhã, o telefone não toca (nunca mais tocou), eu abro os olhos e penso que cada eu te amo que você me dizia, era tão árido, quanto o deserto e dele não brotou nenhma flor para que eu pudesse cuidar, dispensando desse modo, a minha existência na sua vida. 

Bom dia!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Partida

E desta vez, não precisa olhar pra trás, porque não estarei na janela para lhe acenar.
Fiz questão de fechar bem a porta, para não cair em tentação e lhe dar outra chance!
Até hoje, lutei por nós. Que tola!
Agora, se tudo o que me disse é verdade, então é a sua vez de lutar.
Não quero que me venha dizer o que já disse.
Não espere que eu lhe compreenda, pois não tenho mais essa disponibilidade!
Siga em frente, colhendo seus fracassos interiores, porque a vida sempre lhe deu o que você buscou.
Se é determinado, então, poderá vencer mais uma vez. Contudo, nós dois sabemos que tudo o que lhe falta, é determinação!
Persista nos seus erros e termine seus dias vazios, espanando a poeira da solidão, que faz questão de alardear que lhe faz bem.
De minha parte, sigo o meu caminho, desta vez, como de outras, sem lamentar o que passou.
Se consegui antes, consigo agora!
Poderá ser mais difícil, porque o tempo determina a densidade da dor, mas não será impossível, como não foi de outras vezes.
Conheço o processo. Portanto, sei o que vou enfrentar.
Qualquer dor, é melhor que a incerteza, então, vou em frente.
Ontem, tomei a última taça de vinho sozinha (a dois), porque as próximas, tomarei sozinha, mas na melhor companhia, que é a minha própria!
Hoje, começo o meu caminho sem esperar nada. Melhor que isso, só a paz interior.
Me desfaço de laços que me mantinham atrelada a uma fantasia que não me permitia enxergar o amanhã.
Ah... o amanhã...
Como é bom saber que ele só dependerá de mim...
Vai! Continua a sonhar com o seu mundo etéreo, enquanto eu lhe dava o palpável que nunca lhe fez enxergar o quanto a realidade pode ser maravilhosa.
Adormece sem perspectiva, que seus dias serão breves.
Sonha com o possível, enquanto o real se dissipa da sua estrada.
Afaste-se do meu coração, pois ainda que lhe pertença, não mais terá como entrar nele.
Não foi por falta de aviso.
Esta será nossa útlima despedida, e, por maior que seja a dor da partida, a mim, ela indica um novo rumo, uma nova possibilidade para a felicidade, ainda que só...

Bom dia!

domingo, 5 de agosto de 2012

Basta!

Há tempos venho lhe dizendo que é a última vez. 
Há tempos, venho lhe dando outra chance, mais uma e outra...
Um de nós, tem que ter atitude. Que seja eu, se você não é capaz!
Um homem que se diz ferido de guerra, certamente aprendeu a ter iniciativa, e, se você não tem competência para definir a nossa vida, então, está explicado porque se deixou ferir na guerra!
Não há nós dois. Houve algum dia?
Claro que não! 
Me permiti, todo esse tempo, ser enganada por você, que vai cozinhando em fogo brando, me mantendo cativa, na forma mais torpe, porque tem o meu consentimento.
Se não vamos mais ser nós, não vou ficar aqui, sofrendo por alguém que não me vale tanto. Aliás, não vale mesmo!
Bom caráter, determinação, disciplina, compromisso, respeito, são qualidades que passam à larga de você.
Estou ferida de guerra, mas de uma forma mais danosa, porque não se vê onde a bala de fuzil, que estava camuflado com flores, me atingiu mortalmente.
Parece uma brincadeira com as palavras, mas você deve estar entendendo perfeitamente do que eu falo, até porque, você nunca me deu flores!
Seus dias ao meu lado, lhe foram leves e minha presença coloria sua vida. 
Por certo! Você tinha em mim, a platéia e os aplausos que precisa para alimentar seu ego atormentado.
Meus dias ao seu lado, foram pesados, e deles, vou levar a certeza de ser a única responsável pela minha dor, pois a permiti.
Não me ligue mais. Não me procure. Basta!

Bom dia!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Compartilhando

O telefone tocou e ele me disse com a voz ainda embargada, que tinha chorado muito.
Quando perguntei porque chorou, se tinha acontecido alguma coisa, me contou que esteve conversando com a irmã mais velha e que recordaram momentos da infância, os quais ele já havia esquecido.
A história em si, é engraçada, porque quando era ainda muito pequeno, disse à mãe que estava com fome e, para lhe ensinar independência, a mãe lhe entregou algumas moedas e lhe disse que podia ir sozinho ao mercadinho perto de casa e comprar o que quisesse.
Feliz, ele saiu levando consigo, duas sacolas enormes e todo feliz, foi às compras. 
Contou que pensava, que se podia comprar o que quisesse, então, melhor seria levar logo duas bolsas das grandes!
Guloso, como toda criança, pegou presunto, queijo, pensou que desta vez, não ia comer margarina, mas manteiga, que na época, era muito caro! Também colocou nas bolsas, doces e outras delícias para ele, que estava se achando poderoso, com o tilintar das moedinhas nos bolsos...
Passou uma boa hora entre as gôndolas. Finalmente com as sacolas abarrotadas, se dirigiu ao caixa. 
Quando o dono do estabelecimento lhe disse o valor da compra, não tutibeou e estendeu-lhe a mãozinha pequena, contendo as moedinhas que a mãe lhe dera. Ele não conhecia o valor do dinheiro!
O homem, muito zangado, lhe disse que não era suficiente para pagar o que ele havia comprado e, como não tinha mais dinheiro, educadamente, e constrangido, aliás, muito sem graça, disse então ao homem, que lhe desse somente o que o dinheiro pudesse pagar.
O homem, não se fez de rogado e disse que primeiro, ele deveria devolver às prateleiras, tudo o que havia pegado.
Embaraçado e se sentindo humilhado, ele levou mais umas duas horas, para colocar tudo no lugar.
Preocupada, sua mãe foi com a irmã, ao mercadinho, procurar por ele. Quando chegaram e viram o menino reorganizando tudo, perguntaram porque ele estava fazendo aquele trabalho, ao que ele prontamente esclareceu o que havia sucedido.
A mãe lhe explicou então, que era para ele comprar o que quisesse, pensando que ia comprar um doce, ou algo do gênero e não todo o mercado!
Muito inteligente, ele se dirigiu ao dono da mercearia e perguntou o que dava para adquirir com as moedinhas, ao que o homem respondeu que dava para comprar certa quantidade de margarina.
O pequeno, imediatamente, perguntou quanto de manteiga daria para levar, ao que o homem lhe disse que só daria para comprar a metade do que levaria em margarina, ao que de pronto, com oito anos, ele retrucou, ainda que fosse pouco, preferiria a manteiga, pois de algum modo, teria que ver seu desejo satisfeito, mesmo que começando com menos! 
Isso é que é determinação! 
Mas estou contando isso, porque o mais importante, foi ele ligar para compartilhar comigo!
A margarina, pode até ser mais barata que a manteiga, mas ele ter dividido essa lembrança comigo, não tem preço!

Boa noite!

sábado, 14 de julho de 2012

Cicatrizes

Meu corpo tem muitas cicatrizes.
As marcas que o tempo me fez.
Umas, para salvar minha vida, outras, para perdê-la!
São sinais que marcaram meu corpo e minh' alma...
Algumas eu quis, outras, me foram impostas...
De umas, me orgulho, outras escondo...
Meu corpo tem marcas da minha história, que construiram a minha vida.
Algumas cicatrizes, são profundas, atingiram a minha alma, minha essência... já outras, são superficiais, mas também têm algo a dizer sobre mim.
Nem de longe, meu corpo é perfeito, mas nada na vida é.  A forma, a textura, falam por si, sobre o resultado.
As rugas, são cicatrizes do tempo, as marcas no meu corpo, são cicatrizes da vida.
Cada corte na carne, cortou meu amor próprio de uma forma única, sendo que alguns deles, me elevaram e outros, me modificaram, enquanto uns tantos, me mortificaram...
O tempo imprimiu em mim (e continua agindo), sua lingüagem própria, que me transformou por dentro e por fora.
A vida, imprimiu em mim (e tomara que não pare de fazê-lo), o significado de conquistas, de lutas vencidas, de males sanados, de amores correspondidos ou não, de frustrações, angústias, mas também de momentos únicos, felizes e memoráveis...
Meu corpo não é perfeito. Mas qual seria a vantegem disso, se eu não tivesse uma vida pra contar, uma história já vivida, uma estrada percorrida e tantas descobertas ainda...
Minh' alma, não é, nem pretendo que seja, a perfeição, mas também há beleza numa colcha de retalhos, não?
Tenho muitas cicatrizes, mas meu coração, intacto, ainda pode amar, sorrir, chorar por inteiro, porque continua intocado!

Boa noite!
 
 

domingo, 17 de junho de 2012

Diferente

Podia ter sido um sábado qualquer, mas ao agregarmos valores diferenciados, fizemos daquele dia, um marco, um momento mágico e especial.
Foi um almoço simples, só nós (dois casais), dos quais, um bastante jovem e o outro casal, já na terceira idade, mas não havia diferença na nossa harmonia.
Gestos como o amor que temperou o molho e a massa, ou a foto da mesa repleta de garrafas vazias de vinho, mas que não foram consumidas todas naquele dia, só para nos fazer rir... a faca de guerra, que o mais velho presenteou ao mais jovem, a capa da mãe da mais nova, presenteada a mim, que fiquei muito emocionada... até o conjunto de cachimbos, que foi dado de presente ao "cozinheiro"...
Enquanto saboreávamos o vinho, o nosso cozinheiro nos cortejava, com histórias de vida, que nos embevecia e divertia...
Tudo muito simples, mas com valores agregados, que jamais serão esquecidos por nós.
O licor de morango e o sorvete de chocolate, coroaram aquele almoço guarnecido por macarrão, molho de carne moída, polenta e salada de folhas verdes...
Podia ter sido um sábado qualquer, mas quando o envolvemos por nosso amor, por nosso carinho, o transformamos num sábado único, diferente.
Isso me remete à conclusão de que a vida é bela no simples, mas nós é que insistimos em buscar sofisticação, quando o singelo faz tanta beleza...
Pode ser que a gente nunca mais consiga outro sábado como o de ontem, mas a lembrança dele, jamais se apagará dos nossos corações!
Como foi lindo esse sábado diferente!!!

Boa noite!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Camaradagem

Certa vez, recebi uma mensagem, acho que dessas atribuidas a monges tibetanos, e lamas, que aconselhava namorarmos com alguém com quem a gente possa contar não para fazer amor, mas para conversar porque é o que mais faremos no final da vida.
Se o conselho é tibetano, chinês, turco, americano, brasileiro, não faz a menor diferença. O fato, é que o passar dos anos, modifica nossos valores e outros interesses passam a ser priorizados.
Realmente, hoje, dia dos namorados no Brasil, eu me pergunto o que eu desejava há dez, vinte anos atrás, e noto que meus desejos não são menores, melhores, ou piores. São diferentes. 
Naquele tempo, provavelmente eu estaria desejando um presente, um beijo na boca, uma noite ardente de sexo, com direito à luz de velas e música ao fundo. Hoje, eu quero simplesmente estar com o meu namorado, para conversarmos sobre nossos sonhos, nossa vida juntos.
Ah, mas vão perguntar e, por que não sexo? Claro que também vamos nos amar! Mas se não for hoje, pode ser amanhã, ou na semana que vem, porque agora, a prioridade, é estar junto e não dentro! Risos...
Os desejos, continuam, apesar de dizerem que se dissipam. O que muda, é o foco.
Antes, há algum tempo atrás, o foco era o prazer daquele momento; Aqui, o que conta é o que se perpetua dentre os sentimentos mais cristalinos, somente alcançado por quem amadurece e pode vislumbrar outros prazeres que não o da carne e do momento.
Com a idade avançando, a gente tem tantas outras premissas, que sexo passa a ser conseqüência e não causa! 
O que realmente importa, é a camaradagem, a cumplicidade.
Mas pela manhã, ao me acordar, quando ele me disse "feliz dia dos namorados, amor; eu te amo", ah... não tem preço! 

Bom dia!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sonhando

Sonhar os meus sonhos, seria exigir muito de si. Mas nossos sonhos, os seus e os meus, juntos, transformam-se numa realidade que dispensa explicações.
Sonhamos o entardecer do outono, entre as folhas que caíram pelos caminhos que trilhamos, mas ainda mantemos o calor da última primavera que vivemos.
Sabemos o que somos, porque a vantagem que temos, é o tempo que nos ensinou tanto para chegarmos até aqui.
E então, poderíamos nos perguntar, por que sonhar, quando a nossa vida não precisa mais de aventuras e sim de concretizações?
Ah... porque sem os sonhos, não edificamos!
Você precisa. Eu mereço!
Não servem apenas pensamentos... os sonhos são mais nobres, porque não racionalizam, apenas são.
Atitudes, ainda que necessárias, são reflexo de análise de risco, enquanto o sonho, meramente acontece. Ou não!
Assim, seguimos nossos próprios passos, buscando que se repitam quando são bons, mas voltamos sobre eles, se são ruins...
Como serão nossos sonhos amanhã, quando estivermos juntos? 
Não farão diferença, porque são sonhos, mas sem eles, seremos sem dúvida, diferentes do que somos hoje.
Sonhar é igual a amar: ou se ama, e se sonha, ou simplesmente se espera, porque sem o amor, não sabemos sonhar!

Boa noite!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Saudades

Hoje foi um dia muito especial, para muitas mulheres. O dia em que comemoramos a maternidade.
Minha mãe, não está mais aqui. Senti muito não poder ligar para lhe cumprimentar...
Este é o segundo ano que a sua ausência, nesta data, me faz sentir o peso da saudade que sinto dela.
Sua presença, mesmo que ela não acreditasse nisso, era marcante e pontuada. 
Minha mãe não tinha idéia da força que tinha!
Aliás, muitas vezes, brigamos, porque eu detestava, quando ela se fazia de vítima, porque sempre a vi como uma fortaleza, porque enxergava e sabia aquilatar o poder que ela insistia em negar.
Era capaz de congregar, ou desagregar, com uma agilidade, que me deixava sempre impressionada.
Ela era dona de uma sutileza nada sutil, ou leve... sabia pesar muito bem todas as possibilidades, quando tinha um objetivo.
No entanto, era a dona de uma ingenuidade, de uma pureza, que não passava desapercebido a ninguém.
Minha mãe era generosa com aqueles que julgava desprotegidos, e não media esforços para assumir para si, a responsabilidade de guardá-los.
Tinha uma simplicidade para lidar com as situações mais complexas, que a fazia única.
Hoje, eu ligaria para ela pela manhã, nós nos cumprimentaríamos, depois, meu filho levaria um presente para ela e almoçaria com ela, que mais tarde, me ligaria, para contar o que ganhou do neto. Aliás, todos os netos levavam presentes para ela, no dia das mães...
É, a minha mãe deixou muitas saudades...
Desejo que todas as mães sejam felizes com seus filhos!

Bom dia!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Contraponto

Procuro esvaziar meus pensamentos, na tentativa de me arrancar desse torpor... 
Estou sem estímulo. Sem coragem para seguir em frente. Por que você precisou ir agora?
Eu não fazia idéia do quanto seria difícil e que me faria tanta falta... não posso sofrer tanto em nome de um passado, uma história, que não vai se repetir.
Meus temores, se acumulam na incerteza dos passos que não posso dar, mas ao mesmo tempo, me impedem de seguir, ainda que para me aventurar.
São sonhos que jamais vão se realizar, porque sua persistência neles, me conduz a uma realidade que não consigo enxergar.
Em contraponto, a vida urge fora de mim e aqui dentro, por mais seguro que seja, não me acrescenta novos horizontes e o medo me estanca.
Sem forças, levantar e seguir, são atos impraticáveis, e fico eu aqui, como zumbi, vagando entre o real e o imaginário, perdida nas mesmices.
Quanto tenho a fazer... quanto consigo executar?
Medidas de uma dor que não passa. Não me deixa!
Nada me vislumbra oportunidade e sem você, o cinza se instalou. O frio penetra aos poucos, mas o vazio já é absoluto.
Olho em torno e não vejo nada ou ninguém capaz de substituir a sua forma, o seu tom...
Ouço o meu coração e me deparo com tanta dor, que melhor seria ser surda a ele.
Quem poderá me salvar, se você não me vê?
Quem virá me resgatar de mim mesma, se você já não se importa?
Quem vai amparar meus passos, tão débeis e frágeis, que não passam de arremedo de caminhar?
Ah, tudo o que eu queria agora, era poder esvaziar meu coração, pois meus pensamentos, até consigo por alguns instantes, mas ele não.
Nem posso pedir para voltar, porque você não virá. Não me ouve mais... está longe demais para poder fazê-lo.
Também não adianta gritar, porque calado o meu amor, desse jeito, não tenho ousadia para enfrentar esse silêncio.
Queria ir com você, para me sentir mais segura... e nem isso me é concedido...
Preciso respirar para viver, mas até isso está no limite da dor e ai, só consigo fazer o suficiente para não enlouquecer.
Vou ficando minguada em mim mesma, sem brilho ou cor que me valha a luz que pensava ser minha...
E você? Por que tinha que desistir agora?

Bom dia.


terça-feira, 8 de maio de 2012

Busca

Ela sentia medo da solidão, se apavorava, com a idéia de viver só, sem um amor.
Seu corpo clamava por uma paixão, que confundia com sexo, de forma desordenada. Seu corpo lhe cobrava aquela sensação. Era como um vício...
Ela chorava, porque todas as buscas, sempre acabavam em gavetas desarrumadas, e o vazio era sempre maior...
Sonhava com o príncipe encantado, que até podia ser desencantado, mas precisava ficar. Era muito importante que viesse para ficar.
Isso não podia acontecer eternamente. Cada vez que conhecia um homem, pensava que fosse para sempre, mas outra vez, ele se ia, do mesmo modo que tinha vindo e a deixava cada vez mais sozinha, desamparada e se sentindo um lixo.
Nova busca, nova esperança, novo alento e novamente o eco do nada...
Quando ela conheceu-se a si mesma, descobriu o amor. A princípio, timidamente, avaliando se seria possível, com medo daquele sentimento que a consumia por inteiro, mas aos poucos, quando o amor próprio foi crescendo e lhe envolvendo, transmitindo-lhe segurança, começou a gostar da brincadeira.
Tornou-se forte, determinada e seletiva.
Buscando a si mesma, descobriu que se bastava e melhor, que podia dizer não. Podia desistir e não faria mais diferença, porque ela estava ali, única, compacta, pronta como a rocha, a receber o impacto da água, sem contudo demover-se.
E então, descobriu a felicidade que tanto almejou.

Boa noite!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Covardice

Ontem, percebi que você tem muito medo.
Tem medo de amar, envelhecer, viver...
Olha, não adianta eu dizer que estou aqui para sempre, se você não pode investir, porque tem medo que eu não esteja; Não tem como!
Você não consegue manifestar amor, porque ama demais! 
Tem tanto medo de perder seus entes queridos, que prefere negá-los. Ilusória essa sua capacidade de desdenhar, para não sentir a perda.
Você diz que não é ciumento, mas alfineta o tempo todo. Dá indiretas, comenta, sorri, mas enquanto isso, avalia se estou ou não, realmente me importando com o alvo das suas investidas; Claro que é ciúme!
Diz que nunca amou ninguém, mas é mentira! 
Ama seus filhos, mas os mantém afastados, porque se perdê-los, já estará acostumado à ausência deles.
Seu medo de perder é tão grande, que prefere afirmar que não ama, porque assim, se um dia não for mais possível, pensa que será mais fácil se refazer.
Afirma que não vai esperar a morte, se tiver que depender de alguém, porque tem medo da dependência, não por ela, mas porque se alguém te faltar, não se perdoará por ter se permitido.
Na verdade, o que você tem é covardice. 
Medo de me amar, porque não pode conviver com a incerteza do meu amor. Não saberia o que fazer, se me perdesse, então, mais seguro manter a distância.
Bobagem! Quanto mais você estiver comigo, menos estarei longe de você.
Alguém um dia, disse que viver é mergulhar de cabeça, em queda livre. Amar também!

Bom dia!
 

sábado, 28 de abril de 2012

Única

Mã (como eu chamo a minha mãe), hoje, estou me sentindo muito oca. 
Ontem, fez um mês que o Kokão se foi. Hoje, faz dois anos que você fez a viagem.
O que deu em vocês, para nos deixar assim, ainda com tanto a fazer por mim, meus irmãos e seus netos?
Sabe o que mais sinto pela sua partida? Não poder lhe contar as coisas! 
A gente tinha tantas diferenças, mas você é a única pessoa que eu conheço, a quem eu confiaria o meu segredo mais tenebroso, porque não conheço ninguém capaz de guardar algo que lhe seja confiado, como você!
Às vezes, me pego olhando para a sua fotografia, e lembro com muita saudade, das conversas que tínhamos, onde fosse o que fosse que eu lhe contasse, você nunca julgava. Só ouvia...
Claro que você também era (será que ainda é?) muito "tagarela" (risos); Arranjou um jeito de falar até mesmo quando os médicos garantiram, que traqueostomizada, isso seria impossível! (Risos...) Mas qualquer que fosse o assunto, você jamais trazia à tona, aquilo que lhe fosse dito em segredo. 
Sempre disse às pessoas que nos conheciam (e até para aquelas só do meu convívio, que para guardar um segredo, você era (é) única!
Mã, sinto a sua falta, mais do que posso administrar, sabia?
Queria lhe dizer, que finalmente, consegui mandar forrar aquele sofá; Que a Anastácia, ficou ótima após a retirada dos tumores que tinha nas mamas, mas justo a "gorda", ficou ainda mais roliça; Que a Belizária, emagreceu muito quando ficou doente, mas está melhorzinha, e continua, como você dizia, abrindo os olhinhos pela manhã, já avaliando as possibilidades da arte do dia; Que o Antonio, é um "grude" com a vovó, e que o Marcus, ri à larga, quando me vê repetindo as suas façanhas, na condição de avó, e que a Cláudia, é uma nora especial, no que tenho certeza, você concordaria...
Seriam tantas as novidades, nesses dois anos, que a gente ficaria horas sentadas naquela cozinha, lambiscando e conversando... é muito grande a saudade, minha mãe!
E também, tem a partida do Kokão, que se for assim, deve estar ao seu lado, e agora, vocês dois, mais uma vez, entabulando planos, para os filhos e netos, como sempre faziam juntos... acho que a chegada dele ai, deve tê-la deixado com o coração apaziguado, né?
O tempo, acomoda os sentimentos de dor pela perda, mas não diminui a saudade. Antes, só a faz aumentar...
Sem você, o silêncio é algo denso e, a falta que sinto do som da sua voz, nem eu mesma posso dimensionar...
É enorme a lacuna do vazio que você me legou, Mã, mas se puder e estiver vendo o meu coração, por favor, não deixe de abrandar o tumulto que está ali instalado, porque tá difícil, sabia?

Com muito amor e muita saudade, sua filha.

Bom dia!

 
 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Missiva

Meu querido "Kokão", faz um mês que nos despedimos (aliás, eu me despedi de você).
A saudade é enorme, mesmo por tão pouco tempo de afastamento...
Tempo? O que dizer desse ditador, que enquanto conforta, trata das feridas, também me acorrenta e mantém refém de seus caprichos?
Você se foi, sem dizer adeus, porque saiu durante a chuva, em meio à tempestade de raios e trovões, como se tivesse medo da despedida.
Eu estava lá, mas você fez questão de não olhar pra mim. Fui para estar com você, mas como estava determinado, continuou naquele sono do qual não mais acordou.
Lhe abracei, segurei a sua mão, lhe sussurrei o meu amor, a minha gratidão, mas você manteve o silêncio.
Papai, a minha dor, era maior que a sua, pois era eu quem ficava, enquanto você buscava novos horizontes (quem sabe, encontrar com a mamãe), me deixando ali, sem poder fazer escolhas e, ademais, você estava sedado, eu não.
Afirmou a sua história, nas minhas lágrimas, permitindo que eu me sentisse assim, desamparada.
Não pude me redimir; Não pude agradecer; Não pude contar meus segredos... e você, não me contará mais os seus...
Kokão, éramos tão amigos... ou somos?
Naquela hora, só conseguia pensar que você precisava ir e por isso, não pedi para que ficasse, mas se estava me vendo, sabia que a minha vontade era gritar que não fosse.
Eu ainda preciso tanto de você! Não sei andar sozinha! Você foi sempre tão presente, que se esqueceu de me dizer como seria.
Aliás, Kokão, também não cumpriu a sua promessa: disse que viveria até os 112 anos!
Me fez acreditar que tinha o poder de determinar quando fosse a hora de partir... hoje, concluo que você também não sabia.
Na memória, guardo o seu sorriso, o azul dos seus olhos, a lembrança das suas mãos, sempre trêmulas, mas que transmitiam a segurança que ninguém jamais será capaz de me dar.
Lembro o som da sua voz, e às vezes, ainda ouço você me chamar. Que loucura! Sei que não está mais comigo, mas não posso pensar que seja assim... afinal, você me disse que a vida continua!
Sempre acreditei que você seria eterno! Que tola!
Sinto muito a sua falta, que me remete aos ensinamentos que me deu, ao seu afeto paterno, e não me permito sentir a sua ausência. Você continua...
Agora, me restam as lembranças, a saudade que fere diariamente, impedindo que a dor esmoreça, o aprendizado que foi viver sob a sua proteção e o seu amor.
Sinto que todo o meu amor por você, não justifica o quanto devo lhe agradecer.
Quando puder, e se puder, me responde essa carta. Mesmo não acreditando que aconteça, em algum cantinho escondido no meu coração, estarei pensando que um dia, vou receber notícias suas e você vai me provar que isso não é fantasia, que é possível, até porque, preciso acreditar.
Com amor, sua filha, sempre...

Boa tarde!

  

domingo, 22 de abril de 2012

Risco

Percebo que você está apostando na vida eterna...
Será que ela existe? E será que nós estaremos nela, juntos?
Está tão preocupado em fazer tudo ao mesmo tempo, e para tanta gente, que está se esquecendo de nós!
Está deixando o tempo (que não temos), nos distanciar sistematicamente.
Não confio nas suas promessas, não acredito em você!
Não vislumbro futuro e vou ficando, indiferente, aos seus passos que agora, se na minha direção, ou em sentido contrário, sinceramente? Acho que já não faz diferença!
Acolho você no coração, meio que pelo hábito da janela aberta e esquecida...
Espio você pela fresta, mas se não o vejo, também não perco o fôlego, não fico mais ansiosa...
Você nunca se dá conta das perdas que amealhou durante a sua vida inteira e até pode ser por insegurança, ou medo de ser feliz, mas o fato é que está acostumado a não entender o mal que faz a si mesmo.
Outrora, eu corria na sua direção, buscava você. Hoje, cobro apenas a presença, sem fazer questão do conteúdo; Também não se dá conta disto.
Todos os dias, quando me acorda, eu penso se faz sentido... todos os dias, quando vou dormir, me pergunto se amanhã será diferente...
Não vejo como mudar o sentido da roda que nos move,  pois já estabeleceu o círculo vicioso...
Sei que posso dar um basta, mas você esgotou minhas forças de tal modo, que tenho preguiça de fazer o que devo. Espero...
Vez ou outra, acho graça nas suas tentativas de justificar suas faltas, mas na verdade, nada mais me faz rir como antes...
Você vem secando a força vital de "nós", sem calcular o risco. Tem apostado que será pra sempre, mas eu não creio mais que seja possível, então, só vai ficar mais difícil, com o passar do tempo.
Observa seus passos e reavalie nossos papéis. Tenho certeza que meu contrato de amor eterno, já se expirou, e quem o rescindiu, foi você, por descumprimento de cláusulas que jamais poderiam ser violadas.

Bom dia!!!

 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Abandono

Não me desampara, por favor!
Esteja onde estiver, olha por mim. 
A dor da minha saudade, só não é maior que a minha insegurança. Tenho medo de seguir sozinha, sem suas mãos a me guiar, sem seus conselhos, sem sua proteção.
Se não podia de outro jeito, devia ter me dito que ia doer tanto, mas não me preparou para conviver com a sua ausência.
Me fez acreditar que seria para sempre!
E o que eu faço agora?
Como administro esse vazio?
O seu olhar (que olhos lindos!), o seu sorriso, não estão mais aqui para me acolher...
Nunca mais a sua voz; Nunca mais a sua gargalhada; Pior: nunca mais o seu zelo e o seu carinho...
Só essa sensação de abandono, a perda que me asfixia.
Ouvir seus CD's, não ajuda, porque aumenta a saudade.
Fiquei à margem da estrada, sem vontade, sem coragem pra seguir em frente...
Por que teve que ir?
As lágrimas, até consigo a custo, estancar, mas sem você, não posso deixar de sentir dor.
Mesmo querendo, não sou assim tão desgarrada.
Eu tive infância. Escrevi a minha história, mas você estava nela.
Foi meu herói, meu campeão.
Ouvir sem você, as suas músicas favoritas, me demonstra que só aumenta a saudade e a dor da sua partida.
Meus ouvidos treinados pelo seu gosto musical, não ajudam a esquecer...
Sei que é a ordem natural da vida, e você tinha que ir, mas me sinto traída por sua debandada. 
Me fez acreditar que não partiria ainda e agora, me deixa órfã desse jeito...
Preciso seguir, porque a vida me exige, mas por favor, esteja onde estiver, cuida de mim!

Homenagem ao meu pai (Kokão), Bittencourt Bertulucci, que faleceu no dia 27 de março de 2012, aos 79 anos, escrita na estrada, em viagem de volta, após o seu sepultamento.

Bom dia!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Fragmentos

Na medida em que avançamos pela estrada, nem nos demos conta dos resgates que fizemos, mas foram lembranças, saudades e alegrias que pudemos reviver em algumas horas.
Seguimos leves, recordando os fragmentos das nossas vidas, ora no contexto familiar, ora no âmbito de trabalho, individual, ou vivido juntos, mas nossa história estava ali, construída de pequenos detalhes, que foram juntados por toda uma existência.
Agora era o momento de confidências e não de cobranças, mas ainda assim, sempre emoldurado por muita leveza e alegria!
Do alto majestoso dos seus 88 anos, amealhou tanta sabedoria, tanta generosidade em distribuir esse conhecimento agregado à vida de emoções únicas...
Dividiu comigo, esses tesouros, que guardo no coração e na memória, pois a vida consiste nesse juntar de peças, como um mosáico colorido, dos membros de uma família, que interagem e a isso somam também os amigos, os afetos e desafetos, encontros e desencontros.
Tudo agora faz sentido; Tudo se apresenta como deve ser e a vida segue fértil, no amor que só o próprio curso pode guarnecer.
Que bom que pude viver esse momento!

Bom dia!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Hoje

Hoje, é a data em que a mídia comemora a queda dos conceitos machistas que subjugavam as mulheres, que lutaram em alguns casos, até contribuiram com a própria vida, para chegarmos até aqui.
Não sou afeita a comemorar esta data, porque ninguém comemora o dia internacional do homem, e, como não aprecio concessões, do tipo: "tá, eu deixo você ser mulher, pensar, agir, sentir, ser capaz e tudo o mais, já que você quer tanto"...
Eu não preciso que me consintam! Eu sou!
Toda mulher que se situa, sabe que é muito trabalhoso, mas também compensatório, ser mulher hoje.
Conquistamos, a guisa da luta de ícones expressivos, como Frida Kahlo, famosa pintora mexicana, Tarsila do Amaral, artista plástica brasileira, Bettany Hughes, historiadora inglêsa da atualidade, Ana Neri, enfermeira, Anita Garibaldi, guerreira, Maria da Penha, vítima de agressões, Hortência, a nossa eterna cestinha, no basquete, Madre Teresa de Calcutá, religiosa, enfim, eu poderia passar o dia, citando médicas, políticas (de verdade), professoras, advogadas, mães, tias, avós, irmãs, trabalhadoras rurais, "margaridas", rainhas e princesas, uma gama de nomes fantásticos, que se destacaram na construção da nossa consciência coletiva e nos trouxeram até aqui.
Mas cada uma de nós, hoje, é única, porque temos a nossa história própria e nossa luta pessoal, e, a meu ver, é o que devemos comemorar, mas não uma ou duas vezes por ano e sim, todos os dias das nossas vidas, com nossos momentos exclusivos, de dor, sofrimento, ou sucesso e alegrias.
Pra finalizar, vou citar a frase de um homem, Charles Fourier: "O grau de civilidade de um povo se mede pelo grau de liberdade da mulher." 
Assim sendo, eu comemoro com você, mas não porque hoje é o Dia Internacional da Mulher. Antes, porque SOMOS MULHERES!!!

Bom dia!!!
  

domingo, 4 de março de 2012

Vigília

Velei o seu sono, a noite toda. Muito bom vê-lo ali, finalmente dormindo seguro, ao meu lado.
Não que não possa se defender sozinho, mas é que me sinto mais segura quando ele está comigo. Segura por ele e não por mim.
Dormiu tranqüilo, apesar do calor. Claro que providenciei o ventilador para amenizar, mas receava que estranhasse o leito.
O cansaço que sentia, ajudou bastante, porque simplesmente entregou-se ao sono.
Sempre o quis assim, comigo, para dormirmos e acordarmos juntos. 
Durante a noite, ele me buscava, para que o abraçasse e isso, me enchia de alegria, pois mesmo dormindo, manifestou que deseja a minha presença, o meu carinho.
A premência do amor não se cumpre só pelo contato físico, quando consegue ser abrangente, corpo e espírito afinados, sem que nenhum ajuste fosse necessário.
Foi como se tivéssemos feito isso por toda a vida.
Ele se virava e me puxava para junto de si, ou quando eu me virava, ele se aproximava, reclamando que nos mantivéssemos abraçados.
Ali, eu velava o repouso do guerreiro, sem as armas necessárias para o enfrentamento do dia, como quem zela pela criança desprotegida, mas, ainda assim, sentia que estava sendo guardada, aninhada.
Na juventude, não me recordo ter experimentado nada igual, longe da sofreguidão do corpo, clamando por braços e abraços, enquanto agora, sem essa urgência, consigo a plenitude do simplesmente ser.
E ao raiar do dia, distanciados pela escada que me leva ao andar superior, sorrio, apaziguada por sabê-lo ali, tão próximo, mas ainda se estivessemos distanciados por quilômetros, seria comigo, porque nos completamos.

Bom dia!!!