quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O Tempo

Estive pensando em nós. Pensei no que seríamos se ainda estivéssemos juntos.
Como teriam sido nossos caminhos e como estaríamos hoje. Será que ainda nos amaríamos como nos amávamos então?
Você hoje é tão diferente daquele jovem...
E eu então? Mudei tanto...
Fico pensando se a gente passaria a brigar, porque naquele tempo, a gente nunca brigava. Tá certo, tivemos umas duas brigas, mas sempre terminávamos fazendo as pazes e nos amávamos ainda mais intensamente.
O tempo passou para nós dois, e nos deixou sua marca, nos transformou, por certo, mas a questão é quanta interferência ele teria em nós se estivéssemos juntos?
Hoje, não sei nada de você, ou quase nada. Há bem pouco tempo, você ainda me dava notícias, tinha cuidados comigo que hoje não tem mais, era atencioso e hoje nem isto.
Claramente, deixei de ter qualquer importância, ainda que você continue sendo o grande amor da minha vida. Amor da juventude. Amor da era dos sonhos!
Minhas lembranças também se distorceram um pouco com o tempo, mas só um pouco, porque ainda lembro de como era o seu toque e o que ele fazia em mim. Ah, seus beijos também estão se dissipando em brumas de saudades, mas faz parte, com o avançar da idade, presumo.
O tempo é implacável até com o amor. 
Mas ainda penso em nós. Em como éramos naquele tempo!
Sinto saudades de nós, como sinto saudades de alguns gestos seus, esses inesquecíveis, como quando eu disse que queria ficar com o seu cheiro e mesmo naquela madrugada fria, você tirou a camisa (que eu tenho guardada até hoje), e me entregou, para atender o meu capricho de namorada apaixonada, indo embora só com a calça no corpo, que segundo você, estava aquecido com a lembrança do meu.
O que aconteceu com a gente? Por que o seu orgulho nos separou? 
Por outro lado, se não tivéssemos nos separado naquela ocasião, jamais saberemos se estaríamos juntos até hoje.
Mas tenho as lembranças, que por mais esmaecidas que estejam, ainda são meu alento.
Até hoje, pressinto quando você está aflito, ou triste, como quando seu pai morreu e eu sabia que você estava mal. Só não sabia que seu pai tinha partido e quando liguei e você me deu a notícia, entendi o aperto no meu coração.
Ou no dia que acordei com falta de ar e sabia que você tinha se casado, sem saber que ia se casar.
Você e eu seguimos caminhos diferentes, mas você ficou em mim.
Desejo que esteja feliz e bem, apesar de você ter se afastado muito ultimamente.
Só queria saber que você ainda se lembra, uma vez ou outra, do que nós fomos enquanto estávamos apaixonados...

Boa tarde!



domingo, 20 de agosto de 2017

Cora Coralina

Uma mulher além do tempo. Poetisa, escritora, goiana e hoje seria o seu centésimo vigésimo oitavo aniversário.
Ensinou tanto, mas então, as pessoas não estavam prontas para aprender e agora, passados 32 anos da sua morte, a gente vê com admiração toda a extensão do trabalho dessa goiana genuína, que não precisou conhecer o mundo para que o mundo a conhecesse através dos seus manuscritos.

Eu adoro a sua obra e para homenageá-la, posto um poema seu:


Coração é Terra que Ninguém Vê 

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri. 

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei. 

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão 

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lajedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...
Cora Coralina
Boa tarde.

domingo, 13 de agosto de 2017

Papai Kokão

Mais um ano sem poder te abraçar.
Quando penso que morávamos tão longe um do outro e eu passava vários anos sem te abraçar, você estando aqui neste mundo, vejo a tolice que é a gente se afastar de quem ama para perseguir sonhos.
Tudo bem, faz parte, é verdade e também, eu ligava no dia dos pais pela manhã, mas não te abraçava... ah, como eu queria ter te abraçado mais!
Como preciso desse seu abraço!
E na infância, como era divertido, nessas datas, a gente invadir o seu quarto para dizer "feliz dia dos pais"...
Lembro do som das suas risadas... você ria pouco, mas quando o fazia, era como se a casa se enchesse de estrelas. Não era a casa, mas o meu coração.
Engraçado como você era festivo e nessas datas comemorativas, você se vestia de festa. Já acordava pronto para ter a família reunida e o burburinho da casa cheia te deixava extasiado. Você realmente gostava da família reunida.
Nessas ocasiões, você limpava a piscina e colocava suas músicas favoritas para que o clima de alegria nos contagiasse.
Essas lembranças hoje, embalam o meu coração me trazendo alento, mas nem por isso, diminuem a falta que você me faz.
Não adianta, eu sinto falta do seu abraço!
E você que tinha tudo, não se importava com o valor do presente, mas esperava que a gente se lembrasse de te presentear. Até uma cartinha o emocionava.
O almoço podia ser simples, mas tinha que ter os filhos sentados à mesa e quando os netos foram chegando, a sua alegria ia aumentando também.
Sem dúvida, você se completava quando estávamos todos juntos.
E mais tarde, quando eu já não morava mais na mesma cidade, você me acordava bem cedinho, com o café mais perfumado, para me dar bom dia e ir abrir o portão para me ver partir emocionado e preocupado com a estrada que eu ia enfrentar por muitos quilômetros, até que chegasse em segurança ao meu destino. E lá ia eu, te olhando pelo retrovisor, até virar à direita para que então você fechasse o portão e voltasse para dentro para aguardar que eu ligasse horas depois para avisar que cheguei bem.
Mas eu ia levando comigo o seu abraço e agora, estou de volta e não tenho você aqui. 
Ah... como faz falta o seu abraço!
A vida segue, e a ordem natural das coisas nos acomoda porque o que não tem remédio, remediado está, mas não poder te abraçar dói e essa dor não passa.
Hoje, os filhos abraçam seus pais, ou ligam pra eles e festejam a alegria de estarem todos em comemoração, mas só quem não pode mais ter o abraço do pai, sabe a importância que tem esse gesto.
Por mais que eu te deseje feliz dia dos pais, esteja você onde estiver, não tenho como saber se você recebe o meu amor, se reconhece minhas lágrimas de saudades, mas Kokão, meu amor é eterno e no dia de hoje, especialmente, sinta o abraço do meu coração, que é só o que eu posso te dar, nessa distância interdimensional.
Preciso crer que um dia vamos nos abraçar novamente, porque se assim não for, a dor que sinto pela falta que você me faz não me sustentaria para suportar o vazio que persiste e, assim sendo, me recuso a pensar que todos os momentos que passamos juntos, não se justificarão diante do amor que sinto por você.
Mesmo sem poder te abraçar, feliz dia dos pais, Kokão! 
Que mais uma vez, seu coração esteja em festa, vibrando com a alegria da certeza de que foi um pai maravilhoso.
Receba o meu abraço emitido em ondas de amor, já que hoje, não posso mais te abraçar de outro modo.

Filhos, abracem seus pais no dia de hoje e em todos os dias de suas vidas!
Feliz dia dos pais!